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PROJETOS :: GRAVI :: PROJETO TEMÁTICO 2003-2007
 
Alteridade, Expressões Culturais do Mundo Sensível e Construções da Realidade

Entre 1999 e 2002 desenvolvemos o projeto temático Imagem em Foco nas Ciências Sociais (Processo FAPESP 1997/11810-9), que investiu em três grandes linhas de pesquisa: análise, produção e catalogação de imagens. A proposta deste novo projeto procura dar conta de questões teóricas e metodológicas levantadas a partir do desenvolvimento das várias pesquisas e realizações em vídeo e fotografia deste projeto, assim como sugerir outras, que deverão ser aprofundadas. Neste projeto temático nossas pesquisas deverão voltar-se para algumas questões básicas das Ciências Sociais que, se estavam presentes desde o surgimento de algumas das disciplinas que a compõem, como a Antropologia e a Sociologia, adquirem uma nova dimensão quando pensadas à luz das possibilidades trazidas pelas novas tecnologias de organização e tratamento da imagem e do som, como o vídeo, o CD-ROM, o DVD, a foto digital, e a própria fotografia. Os diferentes projetos, a serem desenvolvidos pela nossa equipe, investigam temáticas e universos empíricos específicos a partir de algumas questões teóricas e metodológicas gerais, que resumimos a seguir.

Se, no primeiro projeto temático nossas pesquisas voltaram-se para a produção, análise e catalogação de imagens, nesta segunda proposta estaremos investigando diferentes vias de acesso ao tema da alteridade, sempre tendo em vista as mediações do olhar lançado ao outro. Assim, a primeira linha proposta, estimulada pelas reflexões levantadas pelos autores pós-modernos, diz respeito aos modos pelos quais se têm construído esta alteridade nos relatos textuais, fílmicos, videográficos ou na web. Procurar-se-á investigar o que há de específico em cada uma dessas linguagens e, ao mesmo tempo, quais são os espaços de intersecção entre elas. A segunda linha, mais tipicamente antropológica, procura abordar a questão do outro e de seu fazer artístico de um ponto-de-vista êmico, enfocando os processos subjacentes a este fazer num contexto cultural específico. A terceira perspectiva, procura analisar estes discursos ou mesmo produzi-los, buscando a compreensão da relação entre real e construção do real estabelecida por eles.

1. Traduções da alteridade

Trata-se de uma problematização da atividade interpretativa do pesquisador e dos sujeitos pesquisados. O primeiro busca compreender e traduzir os universos sociais que pesquisa (culturas, grupos sociais, etc.) através de diferentes mídias; os últimos, por sua vez, procuram se apropriar de algumas tecnologias de comunicação, o que certamente traz conseqüências para a construção de suas próprias representações.

Como afirmar, compreender e traduzir o Outro? Se estas questões já se faziam presentes quando a principal linguagem utilizada era a escrita, que outras implicações podem surgir nesta atividade quando outras linguagens em diferentes suportes como vídeo, DVD e CD-ROM são utilizadas? Tais questões deverão ser enfrentadas não apenas através de discussões, seminários e artigos mas, igualmente, através da produção de conhecimento em suportes audiovisuais digitais que incorporem as novas formas de linguagem da multimídia e da web.

2. Expressões culturais do mundo sensível.

Como o conhecimento é produzido, adquirido, organizado, arquivado, transmitido e recuperado em diferentes culturas? Como perceber a associação entre percepção e cognição do mundo e as diferentes formas de expressão artística? Como a memória é concebida nestes processos? Se a visão é a via de conhecimento privilegiada na tradição ocidental, como outras culturas concebem os diferentes órgãos de sentido e os associam às diversas formas de conhecimento? Não haveria, na nossa própria cultura, segmentos capazes de romper com essa tendência?

Nosso interesse é trazer a antropologia da arte para uma nova abordagem em que sejam privilegiados não apenas os produtos artísticos, mas o seu próprio fazer e imaginar. O enfoque está no agente que cria, assim como nos processos que levam a formas de expressão inseridas em contextos culturais específicos. O estudo antropológico que aqui propomos transcende o material que serve de suporte a estas criações (cor, madeira, pedra, som, palavras, gestos etc.), focalizando a sua organização e a intenção (consciente ou não) da qual é resultado final. Nossos universos empíricos são amplos, podendo abranger tanto o fazer musical, quanto as artes visuais e o trabalho do ator. Contudo nossos objetivos têm em comum a premissa de que há uma relação entre estruturas expressivas e estruturas sociais. Se acreditamos, por um lado, que há uma autonomia do universo artístico, sabemos também que há (inter)relações entre formas de expressão e a experiência social, que devem ser investigadas. Cumpre enfatizar que desde seus primórdios a antropologia problematiza o conceito de arte e dos respectivos "produtos artísticos", ou seja, o que para a concepção ocidental representa música, em outro contexto pode ser entendido como manifestação de uma agência sobrenatural ou como uma modalidade narrativa entre outras possibilidades. Nesse sentido, a opção por processos de cognição, percepção e memória aliada à investigação do contexto em que se dá o fazer artístico, pode nos trazer novas perspectivas sobre essa temática.

3. Linguagens e narrativas

Quais as linguagens privilegiadas para a construção das diversas narrativas utilizadas pelo filme documentário de modo geral e o filme sociológico e etnográfico em particular? O que diferencia os vários gêneros de filme? Subjacente a esta questão, uma outra se coloca: qual a relação que se pode conceber entre imagem e real? Se o discurso visual tem certa autonomia, que tipo de relação ele estabelece com o real que se propõe a apresentar visualmente? Que tipo de conhecimento estas imagens nos propõem? O objetivo é não apenas analisar alguns filmes sociológicos e etnográficos, percebendo suas eventuais diferenças, mas também propor um discurso visual crítico que apresente visualmente estas questões.